Florada Intensa

Outro dia, ao caminhar pela rua, despercebido do movimento que me cercava, contemplava um espetáculo bastante interessante, a despeito de sua simplicidade. Eram as folhas secas que povoavam o chão, dando uma coloração ocre, em meio ao asfalto. Fui subindo a rua e pouco a pouco fui me dando conta de que quase todas as árvores haviam se desnudado pelo poder dos ventos e da chuva daquela tarde-noite.
O frio gostoso (e olha que não sou um apreciador desse clima) trazia no ar um aroma de nostalgia, de passado feliz.
Lembrei-me de como gosto do outono (apesar de ser inverno). No outono as coisas sempre têm um jeito de nostalgia e acho isso benéfico. Vale a pena parar e sentir, mesmo que de relance, num momento rápido, o que foram um dia emoções intensas e festivas. O outono tem essa capacidade, tanto quanto o inverno para alguns.
Mas nada se compara com o inicio da primavera, quando as folhas secas dão lugar ao espetáculo de flores e folhas que, se abrindo, suplantam o ocre outonal com seus matizes literalmente divinos.
Nesta época há, contudo, um show à parte – a pintura dos Ipês.
Lembro-me de que em minha adolescência eu adorava o trajeto da escola, principalmente no retorno. É que eu podia contemplar por mais de trinta minutos, todos os dias, o espetáculo dos Ipês.
Pra quem não conhece, o Ipê é uma árvore originária do Brasil. Os paisagistas têm verdadeira paixão por essa árvore e a utilizam em profusão nos seus trabalhos. Mas dentre todos os Ipês, há um que se destaca: o amarelo. E não é somente pela sua cor marcante e bela. Um pequeno detalhe na sua trajetória como árvore não pode deixar de ser mencionado. É que durante o inverno, as folhas do ipê-amarelo caem e a árvore fica completamente despida. Até aí tudo normal. No início da primavera, entretanto, ela cobre-se inteiramente com sua floração amarela, dando origem ao famoso espetáculo do ipê-amarelo florido. Mas o mais interessante é que quanto mais frio e seco for o inverno, maior será a intensidade da florada.
Será isso uma simples coincidência? Não creio nelas. A vida nos ensina de todas as maneiras. E quantas vezes nos vemos choramingando ou pranteando (depende de quem, como e com quem) pelos momentos ruins, sem pensar que isso pode nos dar forças pra vida que segue seu curso.
Acho que seria muito conformismo de minha parte, pensar e/ou dizer pra você que a vida tem seus momentos difíceis e que temos de aceitar.
Não penso que temos de aceitar, mas penso que é preciso saber sobre as possibilidades de fortalecimento que vamos tendo a cada revés que sofremos. E mais: quanto maior o revés, maior a possibilidade de uma "florada intensa" mais adiante.

Beijos no coração!