quarta-feira, 4 de abril de 2007

Como disse ontem, há algumas coisas que gostaria de considerar com você acerca do nosso relacionamento com Deus. Antes, porém, penso que é importante ressaltar quão significativo é pra nossa vida quando paramos pra pensar e falar a respeito de Deus.

As nossas atividades diárias, assim como nosso conceito de religiosidade, têm estado tão díspar do que deveria ser que criamos uma resistência muito grande em falar a respeito de Deus. Discutimos sobre política internacional, futebol da terceira divisão, preço da cerveja em Alcobaça e até mesmo sobre religião... Mas não falamos sobre Deus e muitos nem sequer ousam pensar. Por que será que isso ocorre com a maioria das pessoas?

Eu me lembro de quando me apaixonei pela primeira vez. Nunca recebi e enviei tantos cartões postais, cartas de 03 ou 04 páginas cada (mesmo morando a 03 quarteirões de distância e nos vendo todos os dias) e por aí vai...

Eu falava tanto a respeito dela, que meus amigos já se enfadavam de tanto ouvir o nome dela, seus atributos e tudo mais que eu tanto admirava naquela mocinha de 15 anos de idade.

Sabe, isso não é uma característica de adolescente apaixonado, não. É algo inerente a todos nós em qualquer fase da vida, em qualquer área da vida. Falamos com empolgação das coisas e pessoas de que mais gostamos. No caso dessas últimas, falamos com desenvoltura, pois as conhecemos intimamente e nos são mais próximas.

Aí surge a minha pergunta: "Por que é diferente com Deus?" Afinal de contas, Ele é uma pessoa (tornou-se humano há mais ou menos 2000 anos; você crê nisso, não?), tem sentimentos (afinal Deus é amor) e está disposto a manter um relacionamento conosco. Mas, mesmo assim, parece que O ignoramos ou ignoramos esse relacionamento simples e direto, preferindo as formas complexas distribuídas aos borbotões pelas infinitas religiões que proliferam a cada dia em nossa cidade, em nosso país. E assim, amparados pela escusa de milhares de religiões que não somam na vida de ninguém, nos desviamos do foco que é a relação do humano com o divino, tão necessária a todos, creio eu.

Penso que a forma como vemos Deus precisa ser desconstruída e novamente erguida sobre novos pilares feitos de liberdade de pensamento, simplicidade das relações (homem/Deus) e intimidade das relações.

Se não, crescemos com uma imagem distorcida de um Deus severo e punitivo, que não permite sequer ser visto, contemplado pelos seus seguidores, pronto a castigar com um olhar aquele que ao menos ousar afastar-se dEle e de Suas idéias e mandamentos. Crescemos, independentemente da nossa orientação religiosa, sob o estigma da bênção pela compensação e da obediência pelo temor. Não é pra menos que muita gente opta por não freqüentar os templos e as atividades religiosas de suas igrejas de origem, porque não compensa manter uma relação com alguém que só pode punir ao mínimo sinal de desagrado de sua vontade. Melhor ficar mais afastado e dar o ar da graça de vez em quando nas festas comemorativas (Natal, Sexta-feira da paixão, etc.) e dizer: "Oi, tô passando pra dar uma alô, num me castiga não. Fui".

Fugimos de Deus o tempo todo. Isso não é bom; sinceramente, não é bom...

Eu vejo Deus querendo reverter o processo de relacionamento conosco. Não vou entrar no mérito de quem deformou a imagem de Deus pra nós, mas sei que precisamos reconstruir isso; e do modo melhor, sabedores de que há um só Deus, mas que nos aceita em nossa multiplicidade e em nossa individualidade.

Escrevi há pouco sobre três pilares que podem nos firmar nesse processo de reconstrução da nossa relação com Deus e eles podem mesmo, porque é isso que Deus quer pra nós e quer de nós.

A primeira coisa que precisamos pensar é: DEUS AMA A LIBERDADE.

Não há pra Deus algo tão ofensivo e debilitante de Seu próprio Espírito do que saber que estamos oprimidos por qualquer força que seja, humana ou não. O próprio Jesus falou a todos nos Seus dias de vida na terra: "Eu vim para LIBERTAR OS CATIVOS!". Deus te dá liberdade na sua relação com Ele. Somos livres pra pensar, definir e escolher. Não há obrigatoriedade na relação de Deus conosco. Ela tem de ser espontânea. Se não for assim, o livre arbítrio, presente dEle pra nós, não teria valor. Não há quem possa nos dizer o que Deus pode ser pra nós além dEle mesmo. Só nossa experiência pessoal com Deus pode definir o que Ele é e pode ser pra nós.

A segunda coisa que acho muito importante: DEUS É SIMPLES. E, conseqüentemente, tudo que vem dEle também. A imagem que nos passam de Deus sugere burocracia e complexidade extrema pra que possamos ter acesso a Ele, mas não é assim. Basta uma frase Sua pra lembrarmos isso. "Venham a Mim TODOS os que estão cansados e sobrecarregados e Eu darei alivio a todos". Olhe a natureza ao redor hoje, se der tempo, ou em algum momento de sua vida. Vê como tudo é muito simples? O funcionamento das coisas, a despeito da finitude de nossa mente, pode ser percebido com uma simplicidade só quebrada pela idéia do homem de que pode fazer mais e melhor. Quer um exemplo? Veja um beija-flor, lindo, leve, brilhante. Semeia vida entre as flores enquanto nos tranqüiliza e fascina com seus malabarismos. O mais próximo que pôde chegar de algo que pára no ar foi um aparelho grande, barulhento e que nem nos dá segurança, nem fascínio, mas muitas vezes medo e terror - que falem os nossos amigos do Iraque quando estavam sob ataque dos helicópteros americanos. Você pode estar pensando que sou muito exagerado. Pode ser, mas só quero chamar a atenção pras coisas de Deus que, com sua simplicidade, nos fazem perceber que Ele pode fazer muito com pouco e que as coisas em nossa vida podem funcionar de maneira mais prática do que podemos supor. E quantas vezes achamos que fórmulas mirabolantes de religiosidade inócua nos darão paz de espírito? Vale pensar: quanto mais simples, mais próximo do sistema que Deus tem pra fazer as coisas funcionarem.

E, por último, o mais importante, é preciso querer e buscar intimidade nas relações. Tenho alguns amigos que são muito queridos pra mim. Hoje não nos vemos com muita freqüência, mas houve uma época que nos víamos todos os dias e passávamos horas e horas juntos, fazendo diversas atividades de nossa vida, seja de trabalho ou lazer, juntos. Éramos unha e carne, como se diz aqui em Minas. O tempo passou, alguns casaram, outros mudaram de trabalho e de afazeres, mas algo ficou em nós e até hoje quando nos encontramos parece que foi ontem a última vez que nos vimos. Olhamos e sabemos se há algo errado, ouvimos a voz do outro e nos alegramos ou nos preocupamos pelo que ela transmite. Sabe por quê? Por que nos tornamos íntimos pela convivência. E não basta somente conhecer, saber se está bem ou mal. A intimidade promove o envolvimento, impulsiona os sentimentos bons e expurga os maus.

Deus quer poder olhar nos olhos da gente e perguntar o que nos fez alegres ou tristes hoje. Sua onisciência não tira dEle o desejo de manter um diálogo íntimo e terno com cada um de nós. Deus quer que você e eu olhemos pra Ele e saibamos, só pelo Seu olhar, o que passa pela Sua cabeça.

Deus quer relacionamento simples e íntimo com cada ser humano, na liberdade que Lhe é tão peculiar.

Boa sorte nessa empreitada.

Beijos no coração!

Um comentário:

Cláudio Meirelles disse...

Oi, Migo

Gostei de encontrar seu blog, e gostei do seu perfil também. Está bem sua cara. Super legal!

Quando li sobre os velhos amigos, senti (e tomei a liberdade) que estava incluído alí. Bateu saudades...

Realmente estamos falando pouco de Deus e mais do que isto, estamos falando pouco COM Deus.

Quando você comenta sobre reconstruir nossa percepção de Deus, concordo plenamente. Isto tem que ser feito com urgência. Parabéns por incentivar esta atitude, migo.

O livro que você recomenda (e eu também, pois é fantástico), do Doug Batchelor ajuda nesta tarefa. Mas eu gostaria de indicar um outro, com base no que você comentou sobre os mandamentos de Deus. Leia "Os Dez Mandamentos" de Loron Wade, editado pela Casa Publicadora Braliseira. É uma reflexão, com base em muito estudo e pesquisa, sobre cada um dos mandamentos, numa visão ampla, que inclui a cultura, tempo e espaço e principalmente aplicação no dia a dia, de forma pessoal e fala da ampla possibilidade desta aplicação na vida moderna.

Agora, acredito que algumas religiões sérias tem sido de muita importância no processo de conhecer Deus desta maneira que você defende. Concordo que muitas denominações, infelizemente, tem escolhido formas e programas equivocados. Ouso dizer que algumas outras o fazem até intencionamente, movidas por outros motivos vários que não o encontro e o conhecimento de Deus. Mas, é preciso considerar detalhadamente os aspectos distintivos entre elas, acredito.

Em suma, gostei muito do blog. Vou tirar tempo pra ler mais depois. Gostei muito mesmo.