quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A Arte da Simplicidade

Na última terça-feira tive o prazer de conhecer Olinda. Não tinha ideia de como era agradável e acolhedora aquela cidade e sua gente. Na verdade, eu traduziria Olinda como um mosaico de formas e cores, seja na fachada de suas casas coloridas, na natureza exuberante que nos presenteia com uma linda vista, como diria o próprio Duarte Coelho, quando resolveu ali instalar a capital da capitania de Pernambuco.
Mas Olinda é um daqueles lugares mágicos na terra que abriga pessoas e encantos só descobertos por aqueles que se permitem aventurar pelos caminhos menos óbvios. Um desses caminhos é uma escadaria que faz esquina com a Rua do Amparo. Lugar escondido que não está nos mapas, mas guarda um tesouro.
Subindo a escadaria deparei com um senhor de cabelos grisalhos (não sei se pela idade ou pelo pó da pedra que esculpia). Um bom dia foi suficiente para começar um diálogo com Eraldo Brito e descobrir que aquele homem simples, que estava assentado na escadaria escondida, era um escultor de fama internacional.
O senhor Eraldo me contou que começou a esculpir há 10 anos, copiando peças de ninguém mais que o Mestre Aleijadinho e não parou mais. Sempre assentado no seu cantinho da escadaria escondida, esculpia suas pedras e as convertia em formas sacras trazendo leveza e beleza até ser descoberto por um curador do MASPE - Museu de Arte Sacra de Pernambuco - que levou duas de suas obras para serem expostas por lá.
Desde então suas obras saíram das ladeiras e escadarias de Olinda para ganhar o mundo. E como ganhou. Inglaterra, Japão, França são alguns dos países em que ele possui obras expostas.
Sabe o que me chamou a atenção nessa conversa com Mestre Eraldo? A simplicidade com que lida com toda essa fama e reconhecimento. A sua fala mostra o orgulho de ter seu trabalho reconhecido, mas mantém a serenidade e a humildade de 10 anos atrás, quando era envolvido pelo anonimato.
Como ele mesmo disse: “Sempre venho trabalhar no lugar que comecei. Comecei aqui graças a Deus.” Não mudou o jeito nem as ferramentas, muito menos deixou seu atelier iluminado pelo sol de Olinda. Homem de hábitos simples e mãos calejadas que traduzem a dureza da vida em beleza, Mestre Eraldo não demonstra tristeza ou incômodo pela vida que leva, pelo contrário, a simplicidade foi sua escolha e sua marca registrada. De repente, ele já conhecia a frase de Clarice Lispector: "Que ninguém se engane: só se consegue a simplicidade através de muito trabalho."
Nosso encontro não durou muito. Foram uns 15 minutos, ou mais um pouco, na minha passagem por lá, mas me deram uma lição que não pretendo esquecer. A vida é simples e tudo que se leva dela é maneira como escolhemos viver.
Despedi-me daquele homem com o coração cheio de entusiasmo pela vida, levando comigo uma bênção de Mestre Eraldo: “Vão com Deus e que Ele abençoe a vida de vocês”.
Que assim seja!

Um comentário:

Hélder Coelho disse...

Cara... Muito bom esse Post... Conheço Eraldo Brito das ladeiras de Olinda... Estou lá toda sexta e sábado a noite curtindo a boemia... A parte triste dessa estória, é que eraldo brito é mais uma das vítimas do crack... Hoje ele diminuiu muito o trabalho por conta disso, mas ainda é bastante reconhecido... Ele hoje costuma vender bugigangas nas ladeiras pra manter o vício... Quem dera eu ter o poder de libertá-lo disso tudo, pra q olinda tivesse de volta aquele Eraldo Brito de sempre... Saudações!