domingo, 20 de fevereiro de 2011

Criminalidade interiorizada

A violência já não é mais privilégio dos grandes centros urbanos do país, atingindo hoje pequenas cidades Brasil afora. Claro que nas maiores a visibilidade é ancorada pelos noticiários de jornais, rádios e TVs. O crime organizado é combatido aqui e ali – como se vê no Rio de Janeiro –, mas os resultados são ainda pífios ante a realidade. Em Maceió (AL), só em um dia (domingo, 13), foram registrados sete assassinatos; em São Paulo, a cada 24 horas, pelo menos 30 morrem pelo mesmo motivo; em Belo Horizonte e região metropolitana, contam-se quase sempre mais de 10, a maioria das mortes ligada ao tráfico de drogas, envolvendo geralmente jovens entre 16 e 24 anos.

Nas antes pacatas cidades interioranas, não importa qual região do país, a violência grassa em ritmo preocupante – assalto a bancos e roubo de cargas estão virando arroz de festa –, com o combate pelas forças policiais precarizado, por falta de recursos técnicos e financeiros para realizar as operações de prevenção, investigação e prisão dos criminosos. Para não ir muito longe, tomemos como exemplo a centenária Ferros, a 170 quilômetros de Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce. A sede tem 5 mil habitantes, mas o município, de 1.090 quilômetros quadrados, tem seis distritos, todos a uma distância média de 20 quilômetros dela. Só nos últimos 20 dias, ocorreram uma invasão de domicílio – três homens, supostamente drogados, em busca de dinheiro, esfaquearam um senhor de 80 anos, bancário aposentado, e violentaram brutalmente sua empregada; um assalto a um ônibus que transportava aposentados, numa estrada de terra entre a sede e o distrito de Cubas, executado por seis homens armados e encapuzados, que lhes roubaram todo o dinheiro que haviam recebido horas antes na cidade; e um assalto seguido de morte de um comerciante de beira de estrada, que reagira. Apenas o primeiro caso foi solucionado, com a prisão dos autores dos dois bárbaros crimes – vale dizer que o idoso agredido a faca é sogro de um secretário estadual.

É preciso que o poder público – governos estaduais e federal e prefeituras – refaça suas estratégias de combate ao crime, não apenas com o chavão manjado de que é preciso investir mais na educação para o país conviver com menos criminalidade e presídios superlotados. Educação deve ser tratada com prioridade máxima, sem miséria nos investimentos. Contudo, não misturemos as coisas. Na segurança, é necessário, sim, aplicar maciços recursos em equipamentos de inteligência, veículos capacitados para asfalto e terra e helicópteros, para que as polícias Militar e Civil (estados) e Federal (União) tenham condições efetivas de dar o seu verdadeiro recado à bandidagem, não lhe dando trégua alguma, sem direito a respirar. Caso algum segmento dessas forças não corresponda, faça corpo mole ou prevarique, que o dedo forte da lei caia em cima dele, como está ocorrendo no Rio de Janeiro, onde dezenas de policiais corruptos estão sendo presos por envolvimento com o crime organizado.

No interior de Minas Gerais, o homem simples precisa ter tranquilidade para produzir nas cidades e no campo. Aliás, os roubos e furtos de máquinas, gado e cargas agrícolas estão cada vez mais comuns. No Triângulo Mineiro, já há delegacia especializada para cuidar desse tipo de criminalidade. A sociedade também tem de fazer sua parte, ajudando a polícia e denunciando o que sabe pelo telefone 181 – o ativista negro Martin Luther King (assassinado em 1968), reclamava que o silêncio dos bons o incomodava. O exemplo de Ferros é emblemático: a droga já faz estrago por lá. O ente Estado não pode ser uma figura apenas constitucional. Urge, pois, que saia da Carta Maior e proteja a parte sadia (ainda maioria, claro) da população do nosso continental Brasil. A batalha contra a criminalidade e a violência é dever de todos os brasileiros comprometidos com a paz e o respeito às leis.

Em 1973, a polícia de Minas fez uma faxina no município de Mutum, no Vale do Rio Doce, fronteira com o Espírito Santo, a 412 quilômetros da capital, quando recolheu caminhões de armas, brancas e de fogo. Foi o melhor que poderia ter ocorrido com aquela cidade, que tinha na época fama de berço da violência no estado. Passados 37 anos, as forças de segurança mineiras deveriam restabelecer operações com esse perfil em diferentes regiões de Minas – inclusive na de Ferros –, cujo interior está virando refúgio de bandidos bem armados – a população, desamparada, não pode tê-las –, que estão migrando dos grandes centros do país. Nossos grotões e cafundós merecem continuar em paz. Não há tempo a perder.

Fonte: Estado de Minas Publicado em: 16/02/2011

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